segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Algumas Chaves Para a Leitura do Poema Precedendo o Mesmo


Poeta (Identificação) - Aquele que se reconhece entre os outros pelas palmas das mãos. Vermelhas. E alguns nomes escritos nas costas.

Juízo- O preço que iremos pagar pelo desprezo que temos pelos alimentos que comemos.

Buraco- Não a passagem mas o túmulo- útero que esteve, sempre estará, à boca
daquelas mãos descritas anteriormente.

Água- um único curso a apontar: aquele que escorre.

Leite- o mesmo curso acima descrito.

A coroa- Aquilo a que os cristãos chamam cruz, antes de dizer escuridão.


*

És fogo,

Tua roupa é fogo:
Quais destes dois fogos eu posso suportar?



The Milk Spilling

-O matrimónio-

O (poeta) menino viu no barulho do mar viu na espessura do líquido viu cobrindo o seio direito da mulher um búzio que (anos) mais tarde ele colocou sobre o próprio peito e que mais tarde ainda coroou de leite. O agora homem parodiando, isto é, vivendo, de leite enche o búzio e por ele bebe até a barba escorrer os rios daquela água esbranquiçada.
Sabemos que casou -e que do matrimónio extraiu seus benefícios- porque em redor de uma garrafa grande de vidro azul estão, como num colar, pendurados dois búzios: o tal redondo e um segundo, mais pontiagudo.

domingo, 22 de novembro de 2009

Achados que não polemizam


As azeitonas

na marcação do território
estabelecem uma constelação (nada) orgânica;

O sol
na orientação das casas
levanta a lógica para a construção dos seus muros;

As arcas
frigoríficas agora desactivadas
estão nas hortas (que o Ribeiro Telles professou), cheias
de água da chuva e tornaram-se naquilo que gosto de chamar de:
máquinas de guardar o sangue;

O velho aforismo
que exalta as rãs
e exala os homens nús (da escultura);

Mais uma ou outra construção
que não vale a pena nomear,
apenas a ressalva de que os seus ornamentos
se pintarão sempre a vermelho;

A corola
de cinco pétalas
agora tem três.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Mas tem de haver mais

O sangue era todo dele: Foi assim que o poeta galgou um hiato de sete séculos ao baptizar o filho.
De facto, aproximou-se de tal forma a Andrei -sete séculos antes- que podemos com verdade afirmar que aqueles ícones perfeitos
um pintou e o outro revelou. Precisamente os mais austeros.

Arsenii, o poeta que tudo nomeou. Mas tem de haver mais, disse.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Tâmara Bébé.

À Joana,

Compelindo à vida sempre estiveram (mesmo que invertidas) as violentas imagens dessa doçura. Vulgo: as alamedas; e para lançar o corpo para diante, para o desejo, é que as palmeiras tem frondes. Gigantes, capazes, escadáis.
Ah mas para além da sua brava compleição, as palmeiras servem para invocar um espírito. Invocar, chamar um nome. E, per omnia, é para isso que têem nomes próprios, para que as chamem. E é por isso que as suas avenidas permitem emboscadas com flores (minúsculas) e a exuberância da botânica brotando em frutos do por vir.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Pôr a mesa com mãos de dedos minúsculos


Dormire rente
em altare rente.

A luz, os ícones, os achados. A sua
minúscula disposição feminina que ao
milagre
incita

Tudo deposto
para invocar
Enquanto nós,
na nossa horizontal 
posição,
tornamo-la pouco vulnerável:
habitamos o sono.

e tudo pode, subitamente,
pegar fogo, é igual.