sexta-feira, 15 de março de 2013

-a dança do salmão-

com o pulso na júlia

*
ele faz dois para cá dez para lá

eu digo vem
ele escarra vai

depois da margem eu grito não
exagera! mas o lodo ganha as suas léguas
só de olhar

esguio meu amiguinho
de cornos diabólicos
por olhos, faz uma habilidade
abre a porta para eu passar
põe a mesa, serve-me sempre
o melhor osso
leva jazmim à cabeceira
da minha sesta
enfim

chama-me para que corra a ver
suas amáveis cambalhotas
no leito da morte ainda utiliza o leque
depois abarbata
o broto
a hélice que nos separa
mas a minha paciência
não

eu já conduzi
o cardume
lá onde o rio afunila
foi assim: tinha visto a minha primeira neve
-simétrico apuro incapaz do contacto,
mas seguia anestesiada de lã e de côr.
quando mo puseram nas mãos pesava como só surdo um cadáver:
foi a segunda neve
estéril
despenhando-se na terra e nas minhas botas
num carnaval de lamas
laranja, translúcida
a ova fedia de tão guardada

-é isso que na morte assusta?

o peixe
aba, alteia
resguarda
a via mas a sua
vida, não.

desbronque, meu chapa
desmonte
da selinha de escamas e vem logo para cá,
não há margens para a enxurrada