quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Hay que luchar pero sin perder la ternura jamás

Tento lembrar um dia que é um número. Tento lembrar a matéria de que sou feita, ao menos pela metade. Não tento ser tal matéria, mas que poder além da rejeição mesma do poder habita a impassibilidade? Mulher, homem: cabeça augusta do número, tento o braço maciço da palavra que derivou directa, intacta desde a hesychìa no deserto até aqui, onde ele talvez devesse irradiar ainda que secretamente, mas não irradia coisa nenhuma, há demasiada água para isso hoje.
Tento ainda, sobre tudo o resto, não perder a cadência que me trouxeste junto com a leviandade da mesma. O despudor do ritmo, bendita sejas. Do arranhão de 1,71 m não falarei, que embora tentasse, perdi na luta toda a nomenclatura para a oração.
E o ano que vem trará o retrato de um santo (híbrido), está dito.

5 comentários:

C disse...

Des fois, on a besoin de nous fermer. Et sans vouloir on perd la tendresse, on fait mal à ceux qu'on aime le plus.
Le coeur doit être moux.

Anónimo disse...

Morphosys (estoria de um sanguinário tímido):

Na inércia do silêncio perco-me em memórias. Do que fui. Do que sou. Nada se perspectiva para o que virei a ser. Em tempos muitos me perseguiram para me impor. Umas vezes como predador outras por ser uma personagem sombria de movimentos bruscos. Quem me condenava nesse passado ja me esqueceu neste momento e eu recuso-me a aceitar o facto. Não me considero acabado mas reconheço que estou moribundo. A réstia de vida que tinha em mim esvaiu-se em lágrimas sangrentas de estorias sem fim. Equaciono a hipótese de tentar ilibar-me de crimes que não cometi. Nas bocas do povo fui assassino sem nunca matar. Eh um peso excessivo que não quero levar comigo. Nunca encarei a minha dependência alimentar como um crime e sei que as vezes que consumi foi por pura necessidade vital. Nunca tirei prazer disso. As minhas vítimas acabaram glorificadas em sacrifícios fundamentais para a manutenção de uma espécie. Se fosse crime viver muitos antes de mim seriam condenados por actos muito mais absurdos. Recuso admitir que fui ou sou criminoso. As leis humanas não tocam na minha grandeza, quem as criou não me conheceu. Se me tivesse encontrado com essa criatura nada do que hoje eh certo continuaria a ser. Permitiram ao imortal mudar de personalidades. Por cima de mundos paralelos. O que encontro nesta realidade só me faz correr para os mais escuros espaços deste governo decadente. Na minha outra vida encontro a paz. Vultos ancestrais empurram-me para a verdade. Vozes estranhas encaminham a minha atenção para o crime de viver. Seja qual for o rumo mental que tomo volto sempre ao mesmo princípio. Tenho que me julgar inocente, não sou o que dizem por ai. Nada disto faz sentido. Ninguém tem nada a ver com aquilo em que me tornei. Desloco esta carcaça miserável pelo espaço disponível. Sem medo de falhar ignoro o que se poderá passar. Sustenho-me uns segundos e espero algo. Será talvez melhor contra a verdade. Será talvez melhor identificar quem durante tanto tempo reduziu famílias a corpos em decomposição. Confesso que talvez possa merecer castigo mas nessa caso será sempre por actos inocentes mas penosos. De volta a posição de quem espera reconheço que muito sangue correu por minha causa. Na ausência de voluntarios a um fim miserável e escabroso apresento a minha candidatura. Afirmo aqui em plena voz que desolei muitos humanos. Estas mãos que carrego atrofiaram adultos e crianças na busca incessável de rebelião. Em comparação comigo Hitler não passa de um estupor em calções. Fui e sou mau, governei um mundo paralelo de terror. Movi-me nas sombras atacando sempre que possível. Sou abjecto. Pronto, quem me capturar tem aqui o testemunho gravado de um ser repugnante que humilhou a humanidade com trajectos de violência sem qualquer condescendência para com a vida humana. Se alguém algum dia me apanhar que me degole e me sangre como a tantos eu fiz. Penduram-me em praça pública, queimem-me vivo. Façam de mim o maior dos exemplos, condenem todos em mim só. Agora eh tempo de acção, se ninguém me valoriza então trato eu do assunto. Agora vou sair, vou a caça. Vou estar exposto a tentação do sangue e ao apetite do predador. Sou volátil na arte da representação. Na esquina mais segura apareço do nada e antes da vítima sequer dar conta da minha figura repugnante já passou a um mero manjar. Deixo-me absorver pela noite, a névoa que me levou aos recantos desta cidade deserta percorre o absurdo do rio que eh a minha pessoa. Nas ruas sempre que alguém me aborda escolho um refúgio, não ataco pela frente. Sou cobarde. Isso não escondo. Mas nunca ninguem me apanhou isso eh a verdade. Dirijo-me para o vazio, ninguém me espera, mas eu vou chegar, vou-me perder nos desejos de uma vida farta onde todos sejam quem são e ao ser fraterno implique ser mortal. (de Pedro Nuno Veloso, vociferado por Luís Antero)

MC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MC disse...
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MC disse...

Era Sebastião, ó Sebastião ao peito, fazendo-se anunciar. Já lá estavas tu, sempre estiveras, mas nós não sabiamos, não sabiamos. Espanto: o ano que veio te trouxe, não em repetição mas de novo, como numa roda que se abre infinita. Agora suspeito que te trará pelos séculos dos séculos, mesmo da forma híbrida que se anunciava. E os rostos se pintam de todas as cores, lembrando jaguares.

- O poeta já sabe dizer nomes.