segunda-feira, 1 de junho de 2009

"TATU"

É uma casa colonial escabrosamente alçada em dois pisos. A fachada picada e caiada não acusa nenhuma orientação solar (talvez esteja virada a Este), mas antes volta toda a casa no movimento que acompanha um inesperado percurso vulcânico, uma coisa assim muito insular. Dir-se-ia que espera naturalmente uma erupção. Ao olhá-la de cá parece-me compreender o seu projecto e calo creio que obscuramente entendo a tua vontade secreta de uma imobilidade indiferente, para abolir o tempo. Para o esperar. Sem paciência.
Portanto num painel de azulejos mandei inscrever a misteriosa legenda. Agora, como a um medalhão, dedico-me a olvidar o resto e a habitar somente essa legenda com a estranheza da deslocação. Admito que exista, sim, a intenção de um lento cultivo para o delicado desconforto do lar. E talvez com o fim do Verão ele chegue assim, como uma jóia- a ostentação de um quase constante desfasamento.

Faço tudo o que posso para permitir ao longe o restolhar das folhas das palmeiras, umas contra as outras. Quero dizer, faço tudo o que posso para permitir a fúria imobilidade da loucura. E não me referir jamais ao mar.

Agora para dentro. Devagar, depressa e devagar.

1 comentário:

Makuu disse...

Quando os projectos entendem as vontades dos homens. Quando são as vigas que falam nos ouvidos e as pedras que se encostam às omoplatas da gente. E quando essa gente nada pode contra as mesas rijas.
Para dentro.