segunda-feira, 8 de junho de 2009

Palmeiras com nomes próprios

 

Uma grave e arguta elucidação em alemão para as massas salvou meu desenho a carvão- explicou-me, quebra por quebra, as tensões circulares a que se ofereceria, antes de tudo, antes do olho. Assim, desde última fila no topo da colina até à boca da ópera (era uma montanha) deixei que ele se fizesse e me entreguei no esforço de acompanhar aquilo que já por si desbravaria (é uma canseira a vocação).


Regressei de trabalho feito para uma montanha vazia, um irmão já crescido, os amigos perdidos.


Louco o homem que trabalhou, que se afincou numa lavra e nessa distância sulcou bem fundo um trabalho, uma obsessão. E agora de trabalho feito, a vida cava no corpo (nas mãos) uma ressaca e o nosso louco declina a sua companhia natural, essa doença, e sai para a costa. Digamos: é a festa do estio.

E se ele raivoso procura desenfreadamente colina acima, colina abaixo, desfazer-se com as marés; beber em quantidades idênticas ao que pensa ser a piscina do mar; correr pelo meio dos cardos, picar-se; deixar, e arrepender-se de ter deixado, o livro à guarda de um carcereiro alimentador de ratas do tamanho de pequenos leõezinhos (que vêm comer à mão dela, que é a prisioneira-mor), é porque chegada a noite ou lá o que é, se deita para dormir e sonha, sonha muito. Que consigo descem pelas encostas todos os queridos, e que ao subir encontra, já sem surpresa, os desaparecidos.


Minha mãe eu

corro.


7 comentários:

zamot disse...

Lindo!

Anónimo disse...

Belo.

«Sur la pente du talus, les anges tournent leurs robes de laine dans les herbages d'acier et d'émeraude. Des prés de flammes bondissent jusqu'au sommet du mamelon. À gauche, le terreau de l'arête est piétiné par tous les homicides et toutes les batailles, et tous les bruits désastreux filent leur courbe. Derrière l'arête de droite, la ligne des orients, des progrès.

Et tandis que la bande en haut du tableau est formée de la rumeur tournante et bondissante des conques des mers et des nuits humaines,

La douceur fleurie des étoiles et du ciel et du reste descend en face du talus, comme un panier, - contre notre face, et fait l'abîme fleurant et bleu là-dessous.»

Rimbaud, via mim para ti porque a tua encosta me lembrou desta.

m disse...

Cara Joana-Rimbaud, que viras os abismos do avesso,
um dos nomes próprios da palmeira era o teu. Que quando sonhei a encosta também a descias. Devo-te o esclarecimento da mesma forma que Jacob sucumbe ao anjo. E tenta morder.

«donc
cet ange ailleurs distrait

cela peut
chez nous
apparaître

L’adorable géant ra len ti se condense
tout à coup là
D’abord l’épaule
alors bondir

Jacob roule dessus

Sternum os genou herbe
lutte
cogne étroit

Il sentait l’aile
à l’omoplate
Le bossu tiède
souffle inégal
d’un naseau oppressé
vapeur
contre le cou

Il essaye de mordre»

Jean Cocteau

m disse...

Zamotanaiv,
assenta-te que nem uma luva, fazedor.

B disse...

maria.. sempre a espalhar magia em cada sílaba, em cada ideia e em cada entrega. Beijo

B.

Anónimo disse...

Agora percebi tudo. E assim o texto é ainda melhor. Obrigada.

Anónimo disse...

O que faço eu aqui?