segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O cú das abelhas

Havia na região um antigo convento em ruínas de cujas rachas na estrutura brotavam favos de mel, que escorria parede abaixo. Julgava-se que o outrora pio edifício servia agora de colónia a milhares de abelhas que ali faziam as suas colmeias, mas a verdade é que não se ouvia um zumbido que fosse.
Como a entrada do convento ruíra, prudentemente vedando o seu acesso, o facto nunca foi comprovado e, como seria de esperar, logo entre as virgens da região nasceu o estranho costume romeiro de, a cada primavera, ir-se lamber as paredes do exconvento.

Agora os factos:

Andou por lá uma menos casta, que apesar de laboriosa e cumpridora das tarefas do espírito summa cum laude, dizia nada poder contra a
naturalidade de Deus. Uma injustiça!
Quão desmedido rubedo despertava nas manhãs de Maio, ao imitar o vôo éptico e desenfreado -mas nada trémulo- sobre as flores!
A crescente exaltação que deixava florescer ao perseguir o cú das abelhas, depois toda ela traduzia no mel que escorria. Que sempre escorreu, suspeitamos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Era isto que pensava que tinhas apagado. Mas afinal sempre escorreu, suspeito. Ad astra, só te digo. Cada vez melhor. BEIJO.