sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Lourdes

O parco exercício dar nome próprio às coisas, de as chamar a nós, é querer para elas um futuro estreito. É não poder amá-las a não ser que possamos estar sempre a mudá-las um bocadinho. É querer que adoptem a mesma forma, é insistir na sua angularidade. Uma e outra vez, qualquer coisa que se erga concreta, concreta.
Porém o augusto ímpeto de nomear não me parece tão descabido daqui deste leito onde, à falta de filhos e de estrutura anatómica, chamo para mim o que ciranda pelo quarto e tem, quase por diversão, o meu nome na sua garganta.
Entre os outros, fixo a vontade, chamo-lhe Lourdes e ponho-a de joelhos à espera do que virá.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ontem li isto enquanto pressentia um cirandeio semelhante neste quarto. Mas o meu ainda é inominável. Beijinho, Maria.