domingo, 21 de dezembro de 2008

A estátua, como de costume, interrompe o banquete

Minha língua diz cego quem não vê, surdo o que não ouve, mudo aquele que não fala, insensível às vezes quem perdeu o tacto, mas falta-lhe a palavra para dizer da falta de paladar. No limite minha língua só assinala ausências - a cegueira, a surdez, a mudez.
A imensa maioria não tem língua gustativa e passa muito bem sem ela -devora com pressa bestial, tanto na comida como no desejo-, e assim a língua esconde-se, encobre a própria falha e diz, sem dizer, que não tem com que se dizer.

Só uma língua erudita diz anósmico. Ou, mais raramente ainda, agênsico.

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