segunda-feira, 23 de março de 2009


DANILA, chamei-te
mas tinhas arrancado
já, furioso
cheio de razão,
cheio do espírito,

três anos antes.


terça-feira, 17 de março de 2009

Hammām

Madalena, a doce. Cujo gesto, disse alguém, haveria de perdurar para sempre. O gesto tão tremendamente sensual de onde deriva, directa, directíssima a santa unção que o flácido bispo agora aplica num complicado crisma. Bálsamo que é pura alusão da memória do viver cristão. Viver que, quebrada a finíssima casca do ovo que encerrava os poderes, tratou de escorrer e de se apartar da linguagem; bálsamo que é agora testemunha dessa nebulada imersão do bom bispo, que na hora banho lava os cabelos como se fossem longos. Porque tem no pensamento uma mulher. Магдалина.

terça-feira, 10 de março de 2009

Via lunga

para mim fizeste, entre esconsos, um solarengo quarto noutra cidade (não era Berlim). Para mim, tu que sempre foste a minha impávida anfitriã. Mesmo na guerra (e era a guerra).
Assim uma larga escadaria de pedra adornava o palacete e prometia. E em todas as rasgadas divisões se improvisaram os amorosos refúgios de campanha: sucessivas tendas dentro dos salões envidraçados (e uma era para mim).
Como cama, uma rede atravessada e de resto, nada. É, foi verão na nossa noite.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Os homens nus na escultura não são tão bonitos como as rãs

Que a escultura não comova jamais, que se mantenha intacta sem truques no seu sentido, que impassível se erga e forte até, mas que aí fique. Alta, alta.
Quem chorou já por uma parede, que acuse a pedra. A única mulher que realmente amou uma fachada - que vinha acariciar a pedra quente nos dias de sol e fazia companhia, com um pequeno guarda-chuva, nas noites de trovoada- fê-lo por cansaço.

terça-feira, 3 de março de 2009

A apresentacao do rosto:


Encontrei o meu anjo
sentado numa turva plateia.
Fumava um cigarro,
com os olhos brilhantes.

Sandro Penna


segunda-feira, 2 de março de 2009

20 C - 50%

Só um desenho orgânico, mesmo agênsico, poderá eventualmente a impressão da Poesia - unique source, dentro de um túmulo (agua, lama e pouco mais) refrigerado por uma complicada tubagem que um ex-motor a 4 (quatro) tempos alimenta.
Estranho túmulo, penso, refrigerado. Seja qual for o sistema, precise ou não de alimentação exterior, gasóleo fumo combustão, em que fundados, fundadíssimos factos científicos se baseia alguém para determinar a temperatura ideal para a conservação daquilo que arde, que arderá sempre, por toda a eternidade?