quinta-feira, 22 de dezembro de 2016



Este tempo não está para ninharias. Hoje, enquanto depilava as pernas, uma adolescente perdoou os pais.
Lá dentro, sem coisa que perdoar e ainda embrulhado na toalha do banho, um rapaz pequeno espera ainda ser admitido como planta.


marquise, novembro 2013

Chegados a este ponto, aqui se entrega aos três leitores - alados, com o fio de prumo de
surcar névoas- esta canção. À lavoura arcana esta canção. 
Arautos da trilha, emissários do nevão, 
eles são os persistentes mapeadores 
lá onde adensa e os homens erram- dizem: essa montanha não existe.
Num palácio, seriam dos veludos a passagem. 
E no mar, o vento que ara outras possibilidades à direcção da onda. Assim como a vaga é a canção da correnteza, assim esta 
canta em espesso agradecimento por subirem
 ao que abaixo fica.
Rita, Cláudia, Teodorico & fecundo o olho à raiz do 
percorrer


- De todo laberinto se sale por arriba
Leopoldo Marechal

 NOVA CANÇÃO INUPIAQ (Alaska)


Vôos leves como aviões deambulando claros
no céu da cons ciência. Azul.
Nos dias limpos das primaveras polares
as pessoas costumavam voar, a qualquer hora do dia ou da noite
para o puro exercício da leitura.
Subiam cortando a sul na encosta
ou nas costas de alguma formação,
(para os que sabiam chamar os patos)
e depois simplesmente aterravam
deslizando na neve
ou nas unhas de um falcão,
-para os que, conhecendo algum,
tivessem com ele medido forças e vencido
(com os seus punhos por penas)
alguma disputa de qualquer sorte de pontaria
Tendo ou não a valiosa assistência dos amigos,
a caligrafia das margens do rio,
ondulando para cima e para baixo,
deixando sulco após sulco o desenho da margem,
é texto.
Os anéis concêntricos do cedro grosso,
são texto.
As luzes que as plantas deixaram para que encontrássemos
depois que elas partissem, texto.
As camadas de pólen no lago,
texto.
A língua que o vôo lê fala
inalterada
do reino da impermanência.
Para ler voavam os nossos avós
para o puro exercício da leitura,
(c'est a dire, do despego)
- O que fizeram com os nossos sacrificios?,
perguntam, já que aqui chegaram.
silêncio.
silêncio.
alguém rasga o silêncio com o atrevimento
de uma faquinha de marfim: é a memória:
Agora só aquele-que-chama sabe voar-
conhece as canções,
e isso
talvez descenda,
talvez.
Vós, cujos avós são livros
planais nas bibliotecas
que são lugares quentes
e abertos até tarde.


Novembro de 2016

quarta-feira, 28 de maio de 2014

COTTON ROAD TO SUGAR LANE


◊◊◊
Até que se transmutem todos os registos, dos cauterismos à mais ínfima das células
◊◊◊


Nome: Joaquim da Silva
Aptidão: Envergadura de asa

Nome: Agostinho Neto
Aptidão: Envergadura de Asa

Nome: Jandira Maia
Aptidão: Envergadura de asa

Nome: Rita Jesus
Aptidão: Envergadura de Asa

Nome: António Sêmedo
Aptidão: Envergadura de Asa

Nome: Kamil Jamal
Aptidão: Envergadura de Asa

Nome: Cândido Afonso
Aptidão: Envergadura de Asa

Nome: Adoríval Santos
Aptidão: Envergadura de Asa

Nome: Maria Serra
Aptidão: Envergadura de Asa

Nome: Adelina Justo
Aptidão: Envergadura de Asa

Nome: Tupino Yanumá
Aptidão: Odoríficas


terça-feira, 29 de outubro de 2013

a criança

for Inez

e agora? e agora? e agora?

preciso deitar fora esta lanterna


tim tim tim tim no timtim
o lugar que concerne
a meu daemon et moi
é um io menos que um rio
o fio
de toda a casualidade
aquilo que liga o meu texugo
a mim

fio de pó
pó de fio
é de poeira essa
corrente
e pelas cores,
vê que é celeste
  cadena de hilo
às vezes é uma torrente
que ocupa a rua inteira

deixo a espécie de rato
que agora ele é um pássaro
voa por onde quer
e isso é sempre ao meu redor
curtindo para mim
calando a minha boca
abrindo a minha fala
esperando comigo a hora a hora
a hora de falar
o cordão roxo
do pensamento esvoaçar à laringe
ainda não;
mantenha;
my precious;
são coisas que ele me diz
o texuguím alado

às vezes vira um falcão
cego no impossível
e cumpre.
isso aconteceu uma vez
perto de uma janela

(também fala com os galhos,
e pode ser muito persuasivo)

quando tem gente em
redor
estabiliza-se no cervo,
é preciso uma fórmula
muito antiga
e o coração mais quieto do mundo
para viajar sentado nas suas hastes
mas é quando se vê
-aquilo-
abrindo clareiras

nesse lugar pode-se correr
para a força
a ficar girando com ela doidas
espirais
mas é demais
perder a boleia
a inamovível boleia
a inamovível boleia do príncipe
o balanço que dá para assistir à velocidade de tudo
e onde a única incumbência
é impedir que as centelhas
decepem as pestanas
de minh'alma

nem a fome
nos separa,
génio.

quando o momento chegar,
virá o pássaro abrir a caixa
onde gota a gota armazenei
impaciente
a já pantera
e eu vou soltar a
minh'alma sobre
aquele tarado
de cabelos longos
de unhas longas
de torturas longas
que nos preparou
para o marcial
decepando-nos
à porrada
o vínculo
e eu vou soltar
e os bichos todos
virão mijar, cuspir, gargalhar
assistir
ao fim do vilão
que se chama
separação

*
o nome dela é Ghan

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

FERMA la ENFERMA

para o envio e o avio dos príncipes:
Enfermus lexicus erradicatus
aqui redimo a expressão puta que pariu, dela servir-se é de uma insolência sem precedentes. Nem uma besta insultaria a própria proveniência. Admitir tal formulação é poluir-se de prodridão, meus.
Sem catecismo, a proposta da errata se serve do dever. Do dever de haver a vir. A partir deste momento deve ler-se, escutar-se, abro as inconcebíveis aspas da coxas, grande mãe.
Grande mãe. E que a transmutação comece nas nossas bocas.

                       

                          é uma lasca tão ténue
enviúva aviva
para si
toma
qualquer mulher
mas qualquer mulher sabe
e se compraz/desfaz na
euforia de que o abrir é sofrer
e o degolar †,  sarau
da cura

grande puttana quer dizer toda a gente sabe
mãe de divinas tetas
é ela a que nos desarrelia
é ela a nutridora
a esteira da memória-
o colo generoso da trajectória


daqui para a frente há de precedê-la a vénia,
grande mãe, deusa de divinas tetas



  d'aprés outubro sangrento de 2012




sábado, 31 de agosto de 2013

Rojo-como-la-muerte-el-nacimiento


ao mestre imarcial,



Essa vida,  
um fora de perigo
entre 
dois 
quentes

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

À vida de Maria



Como Rilke, também eu sou a que foi nomeada "Maria" para que tivesse cada passo purificado pelo nome. Aos dois nos apavorou tanta pureza, e dela a sua eficácia;
Como ele, também eu sou levada à -jamais!- rendição do leito. à desconfiança do decoro da luz do aparcado. estacionado;
desconfiança total nos êxitos do social, somos os dois juntos o que poderia chamar-se o antíporra dos magos do social, dos escaladores;
necessidade inata de transformação estrada abandono renovação força. que leva a fugir da família, dos amigos, da própria mulher.
assim no social, assim no íntimo (com as coisas)
desconfiança na ordem, nos sistemas, na arrumação. na ausência do movimento manifestado no quarto. como se estivesse coberto pelo inexorável manto da neve, ou como folha que não conhecesse o vento e do qual nunca houve perfume. no ritmo;
mesmo ansiando a imobilidade (que permite a via estável) perder-se, uma após outra, as pátrias até à língua; e depois ter que deixá-la, deixá-la por um punhado de estrela, estrada, nada.
como em cada conquista reside a sua derrota inefável derrota- a que traz o afastamento
ela se apresenta na sala, cintilante
sustendo com as duas mãos esse tabuleiro onde te espelhas lago
movimento
cadente
incande
scente
zumbido
zumbor
rumor
essa ausência do bem-comum: a nossa própria solidão.
aí a conquista quando ela se apresenta, consequente, tem nela a própria aversão a si, se vê no lago espelhada foge toca-se
a música fere a música!
 
Und sie erschraken beide.

oquesempresesoubeenuncafoidito, essa escrita que não existe.

a desconfiança cresce
e cresce e nos
anima a prosseguir

olhamos para trás, meu guia e eu, na estrada branca
já nem perguntamos:- "quem?"


15 de Agosto e o susto de ambos era coisa prevista

















quinta-feira, 15 de agosto de 2013

DE ACONCHA (Yoruba)

ao Flavio



ROJO
 .
como la muerte
.
el nacimiento
.

*

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Ay mamita



Quem conhece o umbigo do mundo? eu conheço o umbigo do mundo!


Ó deusa das divinas tetas
Ó absoluta copa da consciência
Ó sustentadora de árvores
e deleite

Ó Terra com o seu leite!

Tu que deste de comer do teu ombro
e de beber do teu lado
Ó clemente, ó pacífica, ó odorosa
Ó desejo de todos os seres que têm mãe
Vaso de prazer posto em segredo
Alívio da febre dos amamentados
Compraz-te, vamos
não te zangues ó fazedora de gemas
perpétuadora de brilhos
A montante e a jusante se estendem
as províncias dos que te nutrem

Ó Terra Mãe, dispõe-me
de forma feliz, 
para que a minha harmonia te fecunde
e te bendiga continuamente

& também que, na sua hora, 
o meu cadáver
te alimente



março 2011

sábado, 27 de julho de 2013

milagre vibracional


tórrido pão 

amaralto

pão de milho quebra do joio

mel de espelta trinca do melro

de grão a sol de sol a grão 

vieram dizer-me que tem fome a multidão.

terça-feira, 16 de julho de 2013

seu pantera rosa, pra quê tanto fugir?

                                                                                        
                                                                               ~ Sax para anaconda

                                                      usted me dá
                          tan amorosamente
         la espalda cuando lo persigo
                             por los vagones del tren

creo que lo hace por respeto
- pero hacia quién?
no estamos solamente aqui los dos,
ya sabrá usted... esas moneditas
que se sueltan de las inúmeras*
manos son vuestra escusa para firmarse
tan liquido en calle Garret.
por ora ya se habrá enterao' de que no estamos solos
y sin embargo usted se escapa de mi
decidido, sin doblar un nadilla que sea
como si no hubiera otro enemigo

Quiero decirle
tranquilizese 
como yo me tranquilizo (en su instrumento)
No se preocupe, no lo busco por hablar
ni tampoco le voy a soltar mi veneno
No, no le voy a hacer la dolorosa plática,
o acaso no era usted el que esta mañana huía de mi?
Acaso algún antepasado suyo me reconoció?
Acaso creerá que soy yo
la culebra que se celebra
en la arcana oposición de su sonido
soplo sempre uno, sin costura?

No se apure, no estoy pa
corrompirlo

Yo también cambio de piel
que quedarme aqui

y si me paro es pa que cumpla usted
sú rollo encantador-
encantéme por favor 
haga brillar en su sudor 
el esplendor
y toque una
para nosostros los rehacedores
los que mudan de piel
los que entonan la mancha
los que buscan la yerba
los que sueltan, síbil, el verbo
y ahí se renuevan desde 
el surgimiento de toda enfermedad
(fue en ese entonces que muchos
se transformaron en plantas)

Pero veo que te defiendes sempre,
como te ausentas
si acaso me demoro
cerca de tu encantador instrumento

Las tiendas ya estan cerradas
pero perra, abuso de la escusa del escaparate 
para detenerme un poquito más 
junto al Mejor Sax de Lisboa 

vamos, no te apures y toca una
que cante otra mudanza
que cante un recorrido
como el que hicimos
el primer dia
sobre la bendita crosta-
y que sigue haciéndose
bajo ella, 
en un caminar de cordilleras.


*prueba de que, según el dichoso argentino, Dios existe.

Lisboa, 15 de Maio 2013

terça-feira, 21 de maio de 2013

el martinete


como aquele ferreiro que ao cair do dia acariciava a sua bigorna e só tinha para ela palavras cheias de asas.
- querida, dizia-lhe.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

canto XII



O meu corpo está mudado
A minha cabeça é uma libélula
Os meus dentes são espírito-jaguar
Os meus dentes estão fora do meu controlo
O meu corpo está torto
E as minhas irmãs
Usam a espuma
Das plantas-espírito
Para pintar as minhas costas
Então eu danço
Por caminhos-sol
Por caminhos que descem
Eu vou




(terceira canção Marubo vertida para o português)

sexta-feira, 15 de março de 2013

-a dança do salmão-

com o pulso na júlia

*
ele faz dois para cá dez para lá

eu digo vem
ele escarra vai

depois da margem eu grito não
exagera! mas o lodo ganha as suas léguas
só de olhar

esguio meu amiguinho
de cornos diabólicos
por olhos, faz uma habilidade
abre a porta para eu passar
põe a mesa, serve-me sempre
o melhor osso
leva jazmim à cabeceira
da minha sesta
enfim

chama-me para que corra a ver
suas amáveis cambalhotas
no leito da morte ainda utiliza o leque
depois abarbata
o broto
a hélice que nos separa
mas a minha paciência
não

eu já conduzi
o cardume
lá onde o rio afunila
foi assim: tinha visto a minha primeira neve
-simétrico apuro incapaz do contacto,
mas seguia anestesiada de lã e de côr.
quando mo puseram nas mãos pesava como só surdo um cadáver:
foi a segunda neve
estéril
despenhando-se na terra e nas minhas botas
num carnaval de lamas
laranja, translúcida
a ova fedia de tão guardada

-é isso que na morte assusta?

o peixe
aba, alteia
resguarda
a via mas a sua
vida, não.

desbronque, meu chapa
desmonte
da selinha de escamas e vem logo para cá,
não há margens para a enxurrada



sábado, 23 de fevereiro de 2013

Leopoldo María Panero tomándose desnudo en el charco de don Borges


flor das águas de onde vens, para onde vais?


insondável boto
los ríos corren aguas, no saben que son el Tajo
los delfines talvez canten en alguna canción
la vibración de su nombre
-ese nombre chiaronadaoscuro que es el suyo
y del qual nada sospechan-
pero igual hablan mucho de angeles
y otras cosas que cuestan un ojo al ojo humano

dis-traen aguas




São Bartolomeu, 25 Novembro 2012

valsa de espora para chão bavárico

-são dois pra lá, dois pra cá.

para a Joana


se o veneno entra com cascos
toma estes pézinhos de lã,
a discrição do mármore é o teu antídoto.


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

altar


também para o Pedro

unpossessed by my possessions



quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sister Irmã III (el Muerto, el increíble)


para a Mádá

[Aqui a descrição da sua pequeníssima e não tão contida assim pintura de Cristo A Ser Carregado Para O Sepulcro No Jardim de José de Arimatéia.

Mostrar a figura da mulher que está voltada para o observador e que nos acena freneticamente para que larguemos tudo e corramos a ver. E a levar.

Mas sobretudo mostrar a figura, a imensa possibilidade da figura de Maria Madalena que caminha destacada da multidão e cuja postura, cara, cores, em nada indicam o grau de intimidade com O Falecido.]


Janeiro 2009

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

estribilho dos sem fim

 A M A A N A


a que esperou pelos meus dezasseis não viu os meus vinte, mãe
mas fez os meus trinta, cada osso luminoso dos meus trinta, mãe, cada cabelo de ouro, cada costela afilada, cada braço, cada corda, e cada grito não, lambendo sabe-se lá desde onde até aqui.
que os quarenta sejam suficientes para incorporar de vez o brilho definido do seu espírtito/ e eu espalhe benefícios!
 
seja como for, o oito deitado é nosso!

domingo, 22 de julho de 2012







look me no lust
no lust and no windward
no founding no
corner
stone





quinta-feira, 19 de julho de 2012

canción de la ingrata y volteo de la espinita


Pai, sinto falta da
rédea dura que o teu coração mole nunca arrepiou
áspera, sobre a minha penungem adolescente
essa serpente que lambe,
pata visível por pata (in)visível
os caminhos do transtorno, e trilha
os eixos da carícia desta pele morna, branda, lírica
É uma fonte tantas vezes dourada, que corre a nuca
 - uma veneziana-,
e se precipita em cascata
e se enremoínha no templo da cicatriz primordial-
o ponto equidistante entre o atlântico e o pacífico
a mata que fica no meio destas omoplatas
o ponto equidistante entre as omoplatas-
mata desmedida para as minhas costas
meu país horizontes fantasias
mas para a tua cabeça 
não.
acende e excende as costas
e depois prossegue
espessando em brandura hacía la curva
até se esconder afilada e sacral
E é ela que se espalha sobre os ombros 
como uma chuva dourada
consagra o busto ao brilho
Dulcíssima armadura que distingue
a bandeira/mortalha da indomabilidade da infância
e penteia de serpenteada seara cobrindo toda a super
fície da face, como disse Carlito Azevedo a super
autoestrada da crise mimética, como disse Girard
e espraia ao amor que a mim me anima o ventre, o baixo ventre,
e povoa enfim as províncias do aleitamento
circundando corolas, alinhando em espinha
as mil curvas colunares.
A branda armadura saca os dentes do cão preto da infância
quando lhe bate o sol e ela adensa em brilho como a mata delirante das nossas proibições e o tempo é só isto: dois
cães latindo
a cada extremo da abóboda celeste
assim me perco e me reencontro
assim um espelho e uma pega de caras
assim um guia do vai e vém da cabeça aos pés da deusa,
a penugem da adolescência, pai, passando, passando
abrandando


A rédea que é tanta vez motor inverso do amor morto, pai
da austeridade, do pó branco do recato, do abandono servil

Pai, um freio que chicoteasse atinçando esta babugem
que é já só da raiva o seu caroço negro

Pai, agora sou uma mulher
e sirvo à tua mesa minha melhor perda de rubro,
o vinho doce da nossa fermentação:
duas azeitonas pretas
certamente amargas mas a trituração
delas, pai, na tua recta boca é o alimento
sacia nossa constante fome de desordem, a raia do nosso amadurecimento,
nosso cogitar sossegado.


pink pink pink pink, pink moon

Fazenda, Junho 2012

quarta-feira, 11 de julho de 2012

TRANSATLÂNTICA



EU AGORA VOU BATER PARA TODOS OS MOUROS


 
desapagamento é escrita da puxa liga, poxa
meu nego, por onde tanto
andô esperança, pô nha
'rena, morena morena de ser a tal

alma do parece e perece a tristezura
o piano se esforça na distância
mas a natureza dela é a nossa
transatlântica


Canta só

sábado, 30 de junho de 2012

anda, vem ver o levante


o trino uterino sistema 
de ventos
que a maré lambe e lambendo esculpe
no contra-pêlo 
do ovo
acosta

sexta-feira, 22 de junho de 2012




encontrei o meu demónio: viçosa,
fumava um cigarro de olhos turvos
a infância





segunda-feira, 30 de abril de 2012

Chegou, sorriu, venceu

I AM WHAT I AM

por me acontecerem os cabelos dourados em certas horas
por acontecer a índia
porque a ideia de um continente flutuando
permite
um país
 lá há meninos, mangas, e acontecimentos dourados nos fios dos cabelos. são estrelas, senhor. passando, 
passando/ atravessando

(...)
V
manga
filho cabeludo
Reconcilia/
Liberta
Reconxavía/
Redonda

Responde:
o
fora
afora
aflora
em
ó

Lisboa, 14 de Janeiro 2012

domingo, 22 de abril de 2012

O OBJECTO DE FASCINAÇÃO E REPULSA DE AUBE ELLÉOUËT


 Reduz a um filete de leite sem fim
o jorro de um ventre de vidro

sábado, 14 de abril de 2012

RODAADOR

Tão doces tarântulas trazem os deuses por olhos.
-Joana dos Espíritos




Onde estão hoje as sete escravas de ouro que vendi

para sair do Luxemburgo, cadê vocês escravinhas?
Que isto agora é o Luxemburgo
e chovem partes de automóveis e locomoção urdidas pela pinga
chovem prantos sem botos nem resgate
chove muita coisa miudinha
os cafés-réplica destilam um desespero novo, que mal tem a novidade antes pelo contrário
mas a réplica repica o original e reina
a confusão do quereres onde antes a confirmação
do círculo
isto aqui agora é o Luxemburgo
míope, tão míope

Onde está o vosso brilho agora, meninas?
Durante todos esses anos (seis) falei pra mim mesma
o que importa é que estou aqui
fit as a fucking fiddle
deixei inocência no escuro da encosta do município
(ou será condado?)
mas o que importa é que regressei
com as minhas fa
com as minhas fa-fac
com as minhas fa fac-facu-ul
as f-fa-faculdades
intactas

isto aqui é o Luxemburgo e a luz inalterável do Luxemburgo
põe os cavalos na carroça do cortejo do país
Fúnebre, bem entendido.

Onde estão vocês, sete escravas da libertação?
A primeira derreteu na minha desobediência mansa
A segunda, confesso, foi na senda da incredulidade
do seu valor, fortuna a súbita desenvoltura
do poder mover-me, hidratar-me;
Foi a terceira que me traiu- por preguiça
As outras quatro o desespero ceifou de uma vez
e a mau preço, sabia-o, mas era
preciso
fugir

E se olho para trás
bom, é porque posso.
e é por raiva, para contemplar a ruína
se volto a cabeça para trás (e precipito, rosto e tudo
na putativa cristalização do sal)
faço-o piscando o calcificado olho a X., ordeiro soldado
refém de uma caligrafia deseperadamente contida.
Se agora vos invoco, sete irmãs, é para lembrar
-toda em sal-
que a que parece a única saída
muitas vezes é única saída.

Tinha uma outra, oitava.
era de prata/ ao pescoço
encerrava o maior entre os meus poderes- não era minha
Um vómito provocado mais um par de bichas mais a noite luxemburguesa ma
a-rran-ca-ram do pescoço. Essa noite inscreveu-me na lista
da vingança, da ira, da perversão
acabei
sendo o meu próprio ladrão mas não é essa a questão.
A questão é que o mundo conspira
A questão é que o mundo gira
Isso aqui agora é o Luxemburgo
& todos os filhos

Onde estão vocês, escravas?
hoje não vos libertaria
não assim:

Oitava
tua eterna dona
está sentada no muro
Tem as meias rotas
mas olha com duas incorruptíveis tarântulas por olhos
o futuro

sexta-feira, 13 de abril de 2012

prece de um pé ao outro


Um dos meus pés chorou
Junto à sarja
molhado, distraído

E se um é chora
como fazer do outro coto
o boto
o translúcido
que não se agita
que rosa obedece e branco acredita
nessa senda de lama/ toda cama

Meu boto só mais um nada de equilíbrio
sem lenço/ sem documento
leva este carpintado desalado em tua boca
Boto, amigo, cavalgas/ não nadas

quarta-feira, 11 de abril de 2012

VAI PASSÁ O BOI

Tenho que pegá
viagem de gerir a fome também purifica o adro

pra que procissão prossiga/ progresse, evolutiva
também purifica o fogo do corpo
pra que quando passar
ela me inclua

viagem de gerir a fome/ esse fluxo cavalgado
abre alvos em cada esquina
luxo é tudo ser destino
e rejubila de alegria a paragem digestiva-
a felicidade é celular
-peguei!


domingo, 18 de março de 2012

AVA


as rosáceas do leopardo

não encerram nenhum ponto,
as do jaguar
sim

camuflada de matriz
celular
camuflada de novo modelo
para o universo,
pisa lenta impassível
a pata do não ornado



terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O ELEU

é um sim/não
sem vez
o eleu parece, desaparece. alma do parece, desparece! perece
deste
sim/não que é senão
aqui.
a alegre
a alegre transmutação do mato
a alegre transmutação da mata
o eleu, de manhã ele de noite eu.

ambos
tropeçam do desembaraço deste ver e desaparecer de ser visto

domingo, 4 de dezembro de 2011

El Tigre

São os velhos homens humanos passando, passando, atravessando.

Atenta al tigre de la puerta.
El tigre de Borges es ese, el que todos los dias hay que cruzar para salir a la calle.
Para la charcutería y el sol hay que romper al Tigre.
Para comer hay que romper al Tigre.
Para bañarse hay que cruzarlo.
Para cuidar a su jardin hay que cruzarlo.
Que significa esto Cruzar Un Tigre?
Si salir a la calle es penetrar su entraña, que nueva orden mundial se empaña?
Que nuevo mundo empieza a dibujarse:
calles-vísceras, montañas de ocio,
cielos esplendido hueso
ríos-sospecha, corage
dobla del todo.
Hay que desazerlo para seguir
y hay que hacerlo (con los ojitos) pa volver
Volver- hacerse a su placer,
hacerse tragar de nuevo al entrar
y una vez dentro
del tigre dormir,
huír, escribir.

- Este es el Tigre de Borges, pero hay otro
ronda
y no se ve.



Lisboa, Noviembre del 2011

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Canto XV

iniki

Sou o primeiro
sou mesmo como
o açaí-demónio
acima das nuvens
rasgando o céu
assim é como sempre foi
A forma do guardião-demónio:
as folhas da árvore-demónio
essas folhas contorcem-se
lembram um enxame de pássaros-demónio
inúmeros, estão se movendo
são o mesmo
Estou mesmo cantando
enquanto do canto
do lábio escorre
sumo de tabaco
Ahhhhhh! digo! Ahhhhhhh!
Sou o primeiro
que traz ao peito
sangue de folha fresca
adornado com imagens
o losangulo-demónio
a geometria é a matriz
pela geometria aprendi
As imagens no meu peito
controlam os demónios:
sou mesmo o primeiro
sou o demónio dos demónios.


Canção Marubo passada, vertida, escorrida para o português.

sábado, 29 de outubro de 2011

São Paulo segundo a cabeceira de Flannery O'Connor (para Anthos)


ATÉ AGORA
SOMOS O ESTERCO
ABSOLUTO
DO MUNDO


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

descido está o anjo erradica a dor (para a Matilde)


A ALEGRIA É A PROVA DOS NOVE (OSWALD)


aparecida apareceu
(de cara pintada de amarelo porque naqueles dias só sabia pensar em jaguares)
e esta,
infelizmente
nunca soube atempadamente
que ela
era eu


E A PROA DOS NOVENTA


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

DO OBJECTO "SIM"



Quando desceu enfim

de si,
e dos olhos
das mãos
da cara de luz
Eu reconheci o meu irmão
Tinha um boi adornado na testa
escandido para a festa
Era um boi adornado para a festa
com um cd na testa
e do brilho
reflector
nasceu Esplendor:
brilhava, brilhava:
acontecia muito brilhante
tão multiplicante!
e a cara do anjo
nas quatro cardeais!

Bambu rasante
na garganta
a janta
a estrela toda a volta
de narciso em riste
é o anti-afogamento
o anti-afogamento!

Era a face oculta
do querer
Era, foi, será
a óbvia seta tesa
zerando a reza
dos campos
dos mantos
dos prantos
dos sem-raíz

E dos braços adornados
que a trança em cobre
a transa encobre
manda ordena: avançe a dança!
vibra
sempre alegre o rio e teso o fio
do arco da conversa

Vejam pois, infindas
as graças de meu irmão
que antes do leite
é deleite argonado pousado
em pleno templo-
dançura marquidão
doçura negridão

Vem
coagula e paralisa o jogo
sua mão,
depois dos pássaros ele chega
e instala seu profético multicolor
Ousado no coração azul
desvenda irmão
o pleno corpo
avançado

Se espalham
e gritam os átomos
do teu canto:
Ahhhhhhhhh!


É a face alegre, alegre
equidistante

É a face alegre, alegre
equidistante

REFULGE
REFULGE
RESPLANDECE



(VIRÁ QUE EU VI!)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A senhora H.C. explica como atravessou os delírios da atenção extrema

Patiently, patiently and persistently

Pentear-se
com o pente da loucura ou

pentear-se com o do fogo- c'est pareil
desde que se mantenha a escrupulosa
passagem dos fios
-a maior contagem do amor-
se fará da cabeça
a mesma coroa
de luz


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Potawatomi Princess



Eis que da fracção bêbada nos chega
empinada num bólide rural -pink carnation & pick-up truck
eleita, a princesa do ano

Invariável rosa cárie, monstro
por dentro que coroa de plástico
os plásticos.
Agora que penso nisso não sei se
ela é a soberana ou pura perversão
do que a rodeia e nunca será parte
integrante
embora gerações de pardos tarados
não tenham feito senão a contínua
injecção de xarope de mapple
no cu laranja

E tem uma maquilhagem muito diferente
(sua exclusiva magia é a da escalada
social e a do enredo,
não se pintam mais encarando o medo)

A princesa traz a faixa e o histerismo que nunca herdou
Mas da segunda cadeira de plástico
acena também o avô

sábado, 10 de setembro de 2011

Já nasceu.


AR CORADO encontra-se nas franjas
da celebração
INIJI: juntaram-se as águas.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Equânimo café da manhã


Que faríamos nós de nossa vida tão pura?

C.L.
Adoro muesli pela manhã.
Como explicar a inesperada
alegria do coco?
doçura tão súbita que atravessa
toda a dormência da língua & etc.

Detesto a aparição do verme
na fruta de cada dia.
Irrompe feroz o anúncio da podridão
Ri e ri e rindo sacode
toda a dormência da superfície.

Agradeço estas duas surpresas
& a diferença entre elas



terça-feira, 2 de agosto de 2011

O índio brasileiro é o herói do western americano


Arder o prociso índio!
arder-lhe a procissão em que o escancararam, signo, bandeira, Baby Flag, ardeu.
vergonhas raspadas, o índio é de cera!
Tarados cor de perú: estáis hoje onde estáveis ontem mas
esse aí,
ecce homo, ecce indú, está indu adiante
está indo o indu adiante desde o princípio dos tempos


Fogo a esse folclore
estou chaman do -não ouvem?
a nova encarnação do homem
chaman aquele que chama

virá, que eu vi!


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Tuas presas reinando sobre o não-coral

(Beleza, Langor & Elegância)


um coral um colar

um cunhal letal à jugular
um punhal punhado de cores
estocado

eu brado.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

sambinha no arkansinhas

No arkansas um fogo subterrâneo
fez furor ao longo da estrada estatal

mais perto,
mas ainda assim tão longínquas
do querer,
se ergueram
cúpulas de canaviais.

São trombetas, as canas
da nossa costa:
anunciam,
rebentam por dentro
a própria alegria da novidade.
Onde outros abusam
das suas características flexíveis
para a contrução,
as canas da nossa costa
permanecem intactas,
inúteis instrumentos
de navegação que ora
dizem água,
costa,
estio,
maldade,
ora rebentam
-sem precisar de flautas
nem precedentes-
à passagem das prometidas.

Na borda da estrada estatal
um par de pés dança sem termostato
um improvável samba
com o calcanhar na batida fraca
da cadência.
Na batida fraca,
na batida fraca.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Ainda canto o índio


Não sei se era dia ou noite

quando comecei a beijar tudo cá dentro
beijei-me pai
beijei-me mãe
beijei-me filha
e unhas.
Beijei os ossinhos luminosos
e os que afiei escuros para desígnios
mal designados.
Beijei as tripas- estavam quentes
mas o consolo era genuíno.
Beijei a puta e a virgem na boca,
beijei-me homem, lobo, caralho
e à desprezada concedi o tempo
que passei aos pés da idolatrada
& vice versa.
Beijei tudo, tudinho
e cada lago era uma poça
cada pântano, saliva.
Mas quando beijei o meu carro
era beijo de ir embora
-entendo que o beijo tudo despede,
arranco-
e a canção, como a ilusão,
tem de acabar.

E que eu permaneça
me amando
enquanto esta terra sustentadora de árvores se estenda.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

À mesa de Adua


Disse o profeta daquele que canta, que dança, que, enfim, está morto.


Arcontemplação da gíria celeste

e Francisco brilhando escuro no escuro
do escudo
Um phalo phlorido de cujo deus a espada
é o ressentimento.

De uma a outra chaga,
perfeito é o eixo
perfeita
a infra estelar
costela
como uma flecha de paredes óptimas
desafiando o destino,
desfiando a trajectória.
Flecha no ponto negro vigiado:
Ciúme- era a garganta
Tacha no ponto certo
do azimute:
Pai- era de ouro.


A linguagem, filo mena
é o braço que vai de deus
às coisas mudas

E INIJI já só deseja a língua
nela calcifica o instante
todo
dos dentes
/
de todos os dentes.

sábado, 21 de maio de 2011

I.

Não saberia destrançar a canção do feitiço.


Eu sou a primeira,
aquilo que de mim é azul
fala de cobras azuis
está falando de certas azuis verdades,
e do meu caralho.
Digo:
Eu sou o primeiro,
Descendemos dos xamãs
Somos os filhos do povo jaguar
Somos os galhos da árvore jaguar
Somos os dentes da boca jaguar
O lugar de sangue
que cria a criança cria o demónio
O lugar de sangue
E ensinar é criar
Quando a última palavra se calar
Isto será o que eu penso
Isto será o que eu digo
Estou morto, morto, morta!
Estou morta
Mas voltarei em melhor forma
Ahhhhhh! Era isto que eu tinha para dizer! Ahhhhhh!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Yasaí++

Curumim, O curumim
Porque cantas tão bem?
-Passo as tardes a chamar pelos meus irmãos
As noites, pelas minhas mães


Yasaí: do tupi-guarani quer dizer "fruta que chora".
Toda matéria prima para ser beneficiada precisa "chorar",
ou seja, cair das árvores para ser utilizada.

Pousai, peço, a atenção no índio, no índio que ao ritmo inalou e exalou esta explicação, dulcíssima orquestração no tear da pausa; no índio índico, índio indício claro, claro como um advento.


Curumim O curumim
Porque cantas tão bem?
-Assobiando o coração nunca se arrasta,
diz a mãe.

Curumim, O curumim,
Porque cantas tão bem?
-O assobio sopra o sopro,
pá.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Tradução da loucura em vésperas pascais

Mensagem 0890:
<< Um tiro de ferro foi visto a sair de um carro branco inconformado. >>
Estamos feitos, pensei, mas temos tempo
o nosso é um cadillac torrado.


Mas matar um homem dá direito a uma só coroa: a eternidade da sua cabeceira.
E de tanto me esvaíres, meu morto, te tornaste meu
pai, meu esposo, meu
filho.
A tua morte chega diariamente,
diariamente renovando o
susto, a tua hora
com cada dia chega a tua hora
.

Depois com a noite

cada passo meu é uma ruína
convocando
a inumerável horda de bárbaros
que a crosta terrestre aparca:
Romanos!
Cabeleiras loiras!
Anjos nocturnos!
Todos se levantam para a minha tortura.

Já não penso em Vós, Senhor. Já não penso em Vós.



Benedita Escala

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A EDIFICAÇÃO DA JANGADA DEPOIS DE JOSÉ LEZAMA LIMA CRESCER NO MAR

COMO AQUELE PÁSSARO PERSA, A JANGADA JORRA A PROA
NAS QUATRO DIRECÇÕES CARDEAIS
GOLPEADA POR UM GROTESCO EOLO
INEXAURÍVEL DERROTA -É A VITÓRIA?-
QUER DOBRAR A QUINA À CURVA

A PROA FABRICA UM ABISMO PARA
QUE O GRANDE VENTO LHE MORDA OS OSSOS
E CRESCEM OS OSSOS ABISMADOS
COM AS AREIAS QUENTES AS PEDRAS DO CORPO
DURANTE O SONO CRESCEM
E CRESCEM OS TOMATES COM O RELÓGIO CENTRAL

CRESCE NO AMOLE-CIMENTO A MADEIRA

El alción, el paje y el barco mastican su concéntrico.

GIRA A EMBARCAÇÃO EM DIRECÇÃO
A UM CENTRO DE SEDA
COM AS SUAS VELAS PRESUNÇOSAS
ATÉ SE ANCORAR NUM CÍRCULO
AZUL INALTERÁVEL
DE BORDAS AMARELAS
ATÉ SE ANCORAR NA QUADRICULADA LENTE
DE UM PRISMÁTICO

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Livro


Cascavel, ó cascavel
Porque tens os dentes tão brancos?
Passei a vida na selva deitada,
E tudo o que fiz foi morder


Magnífico objecto verde
Magníficas verdes polpas,
ao amor táctil magnificadas
Magnífico orgão verde,
agênsica língua.

E verde ainda o infinito
ésse:
Muskarat, O Muskarat

sábado, 9 de abril de 2011




Eu disse a história que imediatamente nos antecede é
a mais difícil de entender e tu disseste o distanciamento
é o que realmente conta para uma vida religiosa.




segunda-feira, 4 de abril de 2011

PAQUE À NEW YORK

Seigneur, la foule des pauvres pour qui vous fîtes
le Sacrifice
Est ici, parquée, tassée, comme du bétail, dans les hospices.

Desemboco intacta na coroa

desta corrida:
A cidade está cheia de
corredores mas por
todo o lado o desejo
de pontes e riachos
e aquela escala tão infantil,
abrem fendas nos meus sonhos,
confundem-me.
Mesmo a nova
ior
quer-se
bucólica. Sei-o quando no meu sonho
vejo toda a perfeição rural
continuamente -mas intacta-
perpassada pela turba de gente
empurrando.

Tudo isto para desaguar na cátedra
onde cada coluna inscreve a bronze
seus atributos e convoca
os respectivos discípulos
que alardem os louvores gravados
contra a frágil existência
do poema.
É a super-estrutura do engano, penso.
E logo depois acordo para uma
sala de convenções
e um corpo nu, disponível.
És tu, Eurídice,
ou sou eu?

Mas como despertar para a
oração matinal?
Em Nova Iorque não há sinos.



Benedita Escala

quinta-feira, 31 de março de 2011

I Heard It Through The Grapevine


Grandes pedaços de couro caem da diligência do mesmo jeito que cai a carne.

E talvez por tamanho excesso de matéria orgânica - carne, pele, esperma, pó,
deste bólide se excluem os cavalos
ou qualquer força motora animal
para além da vontade própria dos meus ante braços
e do eixo do corpo todo vertido na velocidade.

Derrapagens alucinantes! Nuvens de pó!
se pudessem cheirar o couro galgante
não gritariam tanto
os meus passageiros


Dezembro 2010

quarta-feira, 30 de março de 2011

DOVE VA QUESTO AGNELLO?

para a mão na África
Gritou a excisão da língua.

Ele, que é o manso, que não
levanta o braço para ferir
ferindo se proclama de outrem
Sou o cordeiro de Nana
Sou o cordeiro de Nana
Sou de Nana Nana Na
Grita a excisão cantante

Esse que apenas pede
um lance na complicação
de tudo o que não se cala.

E portanto fere, perscruta, dança a
dança da ordem impiedosa

-Rezai assim:

quarta-feira, 9 de março de 2011

Transpiração do arquétipo


Afecta na mulher /afecta na COBRA CORAL

terça-feira, 1 de março de 2011

अवे एक्सुद्र औ वू

EXUDRA O VOO DO PÁSSARO
QUE É SÓ UM E SÓ UM SE REPARTE
TODO
PELAS MIL ASAS DA MANHÃ
ANTHOS DISSE A AVE INVENTA O VOO
E ISTO É O PENSAMENTO A PENSAR-SE
CANTO ÀQUELE PÁSSARO QUE
DE ALGUMA FORMA
É TODOS OS PÁSSAROS

CANTO EXPLICO,
CANTO E A CARA DO ANJO
ESCANDE AO MESMO TEMPO
PELAS QUATRO परदेस
AS QUATRO
-CARDEAIS!-
DIRECÇÕES DO VENTO!

MENINA PRÓDIGA EM EMBLEMAS,
MENINA AZUL,
MENINA FARSA
COLANDO
CALANDO O AD ETERNUM EM
EM SÍMBOLOS;
VISÕES DE BANDOS;
ARCONTEMPLAÇÕES DA GÍRIA CELESTE;
ABÓDODAS ACUPLADAS ;
E MANIFESTAÇÕES DA CARNE DENTRO,
A PENETRADA.

CANTANDO SOMENTE
AO VENTO QUE PASSA

E OS RISOS, AS ORQUESTRAS, AS FLORESTAS
A FESTAS E O FOGO,
O QUE ARDE!
O QUE DE UMA VOLTA TUDO GALGA

E NO INCÊNDIO JÁ SEM PORTA
O ÍNDIO CABELUDO VOLTANDO-SE
E EM VEZ DA DESPEDIDA (ERA A MORTE)
DEIXA CAIR O MANTO:
POSSO AINDA LEVAR ALGUMAS AVES COMIGO,
ANDA, PÁSSARO.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

अवे एक्सुद्र ओ वू

Proa plural de benção que à passagem a mulher canta: Desnuda a culpa, chama ao vento, desnuda o vento, chama à cúpula. É a tangente, é a tangente. Cê ponto proa, ponto índio, ponto filo afilado na quilha fálica. Tudo isto a luz na água asperge.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A NAVE ESPACIAL

Lapidada foi, uma cabaça
até que do seu centro gravitacional
se destituiu a graça
e ela pôde, enfim,
flutuar.

E se a cabaça girou lenta no ar
e permitiu no espaço
o claro desenho da sua órbita,
o repolho, a couve, o abacaxi
giram em vórtices alucinados
insondáveis e impacientes.

Ó como são belos os frutos
com os seus corpos fractais tão propícios ao exagero.
Lapidados, voam como naves espaciais.
O mundo é extraterrestre.

sábado, 11 de dezembro de 2010

A Prática.

ābāhu puruṣākāraṁ śaṅkhacakrāsi dhāriṇam |
sahasra śirasaṁ śvetam praṇamāmi patañjalim ||

Tomando a forma de um homem até aos ombros,
segurando uma concha, um disco, e uma espada,
De mil cabeças brancas coroado,
A Patanjali, eu saúdo.

I.
Depois da chacina (crânios rachados ao meio)
os eleitos preparam o chão:
Delimitam o perímetro sagrado com minúsculas medalhas de lacre.
Aí dormirão, comerão, e se exercitarão
com as cabeças rentes àquelas medalhas
que delimitam o dojo-
então toda a sua vida uma missa e uma oração. Da prática.
então toda a vida -e por esta ordem- uma oração, um remédio, uma selva, uma vénia.

À mulher que sobrevive (misericórdia?),
espera-a outro perímetro,
o desdobramento interior correspondente à arena,
exíguo e exclusivo.
É a vénia às mil cabeças acima- o Canto.
E canta:
Patanjali me poupou,
escolheu-me para me ensinar.