quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Hay que luchar pero sin perder la ternura jamás

Tento lembrar um dia que é um número. Tento lembrar a matéria de que sou feita, ao menos pela metade. Não tento ser tal matéria, mas que poder além da rejeição mesma do poder habita a impassibilidade? Mulher, homem: cabeça augusta do número, tento o braço maciço da palavra que derivou directa, intacta desde a hesychìa no deserto até aqui, onde ele talvez devesse irradiar ainda que secretamente, mas não irradia coisa nenhuma, há demasiada água para isso hoje.
Tento ainda, sobre tudo o resto, não perder a cadência que me trouxeste junto com a leviandade da mesma. O despudor do ritmo, bendita sejas. Do arranhão de 1,71 m não falarei, que embora tentasse, perdi na luta toda a nomenclatura para a oração.
E o ano que vem trará o retrato de um santo (híbrido), está dito.

O quadrado de R.V.

À Carolina bailarina

O quadrado (de luz) que RV inscreveu no espaço usando sem mesmo usar o calcanhar na batida forte, apagou uma certa noite escura da história do samba, no geral. Quebrando o tempo naquela ligeiríssima suspensão, apagou o peso inscrito no pé e rodou para além do próprio bailarino. Como se fosse alguém que, já morto, voltasse e se apresentasse aos vivos dançando daquela maneira, trazendo para a vida uma ligeireza a ela desconhecida, de tão fácil. Como a primeira leitura do poema.
Essa aparição física do ex-bailarino provocou em nós, os vivos, um espanto branco, inexorável mesmo. Porém a apresentação do bailarino, essa dádiva, é algo que, suspeito, continuará a ressoar pelos séculos dos séculos da ginga. E para a qual não temos outra paga senão a passista.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Moscovo, Holiday Inn

um punhado de amor
é um punhado de cinzas.

e com isto
o poema tardará.

como uma invocação formulaica,
perguntas como se pode resistir à tristeza
(que a alguém tornou belo)
quando é de manhã, tarde
na manhã,
e curiosamente é a este
insalubre quarto de hotel
que chega a obstinação primaveril.

como se a vida tardasse em chegar-te,
como (tarda) um jardim a estes baldios
de neve.

A prática do coração

A noite voltou a trazer-me palavras obscuras. Ao longe, alguém se vinga habitando o nome.