terça-feira, 28 de abril de 2009

Meu caro gigante verde,

o amor é um dédalo mortal,
o amor é um dédalo mortal,
o amor é um dédalo mortal.


cortaste a cabeça e sem ela e com a ajuda de uma marmoreada enxada cavaste directo para a lógica da construção do murete.
Disponho-a aqui como uma colecção de ossos. Gigante, ninguém sabe mas no que toca a estas mãos a lógica para a construção é a estreita passagem entre as árvores:

crâne
clavícula esquerda clavícula direita
caixa
bras/main gauches bras/main droites
bacia
mesa
perna esquerda perna direita
pieds

terça-feira, 14 de abril de 2009

A doutrina herética de certos artistas já, pobres, tão magoados


Misteriosamente o ferro é dobrado. Consumamos sacrifícios onde fazemos entrar em nós belíssimos objectos, frutos, cascas de árvore. Mas misteriosamente o fogo dobra aquilo que veio para ser duro. E se um obscuro trabalho se dedica a iluminar as hastes do medo, não deve querer apontar nenhum caminho, confiamos.



quinta-feira, 9 de abril de 2009

Et pourquoi veut-elle voir ce rayon vert?

Ter nos próprios termos uma obsessão que em tempos foi qualquer coisa muito próxima de um rigor. E que depois disso precisou de erguer um teatro anatómico só para si. Teatro que era afinal, a praça.
Obsessão que jamais estreita o léxico, mas que a tudo levanta sucessivos cercos como uma aldeia de irredutíveis crescendo do centro para fora, e vice-versa, obsessão. Não é repetição ter um alfabeto reincisivo. Pouco talvez, o sangue. Mas espesso.


Cendres, sulco, externo, raio verde. Amor nunca.

23 Fevereiro 2009

sábado, 4 de abril de 2009

La devota,

Teve a infância povoada daqueles olhos libidinosos. Entre os folhos e as gavetas, o diário e as chavinhas, a santíssima devoção. Tanto S.Sebastião cravejado, tanto lado escorrendo e afinal no hall sempre esteve Daniel. Entre os leões.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

OSTINATO RIGORE

casa meva não tem portões para que se não leia:

Sister Irma III (el Muerto, el increíble)




[Aqui a descrição da sua pequeníssima e não tão contida assim pintura de Cristo a Ser Carregado para o Sepulcro no Jardim de José de Arimatéia.
Mostrar a figura da mulher que está voltada para o observador e que nos acena freneticamente para que larguemos tudo e corramos a ver. E a levar.
Mas sobretudo mostrar a figura, a imensa possibilidade da figura de Maria Madalena que caminha destacada da multidão e cuja postura, cara, cores em nada indicam o grau de intimidade com O Falecido.]




quinta-feira, 2 de abril de 2009

Vinte e cinco (XXV)

Minha irmã cuja voz estoirou pelos vermes e pelo breu.

Nem acordando esta manhã repentinamente rodeada de água; nem esta ilha difícil no meio mesmo do ventre mediterrânico (Difícil porque... bom, agora talvez seja um pouco tarde demais para falar da circularidade das casas e da minha mansidão). Mas nem a ilha com as suas casas comigo lá dentro, nem isso. Nem isso me impede de inchar na feliz coincidência da data, do dia-o-mesmo. Não há omoplatas para a minha cabeça, nem mãos para a felicidade que me coube: o a vir a mesma afirmação da falta.